KENNY ROGERS - WHEN A MAN LOVES A WOMAN







sexta-feira, 5 de agosto de 2011

MAMA AFRICA




É ISSO AI FAMÍLIA CAVALO DE PRATA, ME PEDIRAM UM ESPECIAL SOBRE A ÁFRICA ENTÃO VAMOS FAZER UM TOUR POR ESSE CONTINENTE GRANDE E DE VALOR IMENSO PRO MUNDO. DESCULPEM SE EU NÃO CONSEGUIR COLOCAR TUDO SOBRE A ÁFRICA, PORQUE A DIVERSIDADE CULTURAL É MUITO EXTENSA, MAS VAMOS COLOCAR OS PRINCIPAIS ITENS, MUSICAS, RELIGIÃO E ETC SOB O OLHAR DE UM MUSICÓLOGO... VIVA A MAMA ÁFRICA!!!

Sons Africanos - Apoteose do ritmo
Por: LEON NGOY KALUMBA, Musicólogo E Jesuíta Congolês


Um louvor

«Ensinaram-nos que a música é a arte de combinar adequadamente os sons, tornando-os agradáveis ao ouvido; mas, para os africanos, a música é a arte de louvar a vida.» Esta afirmação, feita pelo músico camaronês Francis Bebey, no I Festival das Artes Negras, em Dacar (Senegal), explica os fundamentos dos cantares africanos desde o tempo dos antepassados. A música africana tem uma estreita relação com todos os acontecimentos da vida diária.
Há músicas especiais para os trabalhos agrícolas e para os trabalhos mais pesados. A música acompanha os casamentos, as festas do povo, as mortes... A música entra, igualmente, no mundo espiritual, nos ritos e na magia. Canta-se a vida quotidiana, a África com os seus homens, os valores tradicionais, o orgulho, os sonhos, as alegrias e as penas dos africanos. Os temas são tirados do dia-a-dia; englobam todos os sectores da vida, tanto pessoal como social, e estão carregados de conteúdo moral, religioso e até político.
A sul-africana Myriam Makeba lutou com a sua música em favor da libertação dos sul-africanos dos regimes racistas da África austral; o mesmo fez Chimurenga no Zimbabwe; também Johnny Clegg, filho de imigrantes ingleses na África do Sul, que foi alcunhado de «zulu branco», por ter adoptado os ritmos zulus na banda Savuka, ou o inglês Paul Simon, que colaborou assiduamente com o grupo Black Mambazo.
O álbum Loi, do congolês Kofi Olomide, é um olhar crítico ao novo poder político instalado na RD Congo. Para o musicólogo congolês Ray Lema, a música africana é mais um meio de expressão que uma organização rítmica, como se fosse um jogo de sociedade.

Uma lição

A música, como um dos elementos da tradição oral, servia também para ensinar os mais novos. Através dela se contava a história, se davam lições de moral e se transmitiam as verdades do património do povo à comunidade. Como não eram gravadas, as canções passavam de geração em geração por via oral.
Neste processo, o aspecto repetitivo facilita a memorização. Os griots (trovadores) desempenharam, por isso, um papel deveras importante na transmissão oral da história do povo africano. Cantam trechos que, normalmente, mantêm o mesmo ritmo básico ao longo de várias dezenas de minutos. Para alguns ouvintes, isso é monotonia, mas não há dúvida que ajuda as pessoas a memorizar as músicas.

Dança e partilha

A música é uma actividade partilhada por todos os membros de uma comunidade. Os africanos, geralmente, não se limitam a escutar a música, mas participam nela cantando, tocando instrumentos ou dançando. O baile é outra das expressões daquilo que se canta; uma linguagem corporal que é preciso entender conforme as circunstâncias.
Grande parte da música africana é praticamente inseparável da dança e, portanto, predominantemente rítmica. Por conseguinte, muitos instrumentos só têm sentido na sua relação com ela; por exemplo, os diferentes tipos de guizos empregues. A dança está no sangue dos negros africanos: a escola da dança, em África, é a própria vida!
A música africana emprega a polirritmia (sobreposição de diferentes ritmos) e apersistência (esquemas rítmicos ou melódicos repetidos). Costuma recorrer a uma polifonia instrumental, enquanto a polifonia vocal se encontra bastante mais divulgada na África austral. Geralmente, estrutura-se em dois tempos, mantendo um ritmo básico sobre o qual se podem inserir os contratempos. Isso ocorre também no baile: o baile africano raramente é uniforme, pois possui um ritmo de base seguido por todos, enquanto cada um, depois, vai dando um toque pessoal aos movimentos do corpo.
Na RD Congo, por exemplo, uma canção tem duas partes: na primeira, dança-se arumba africana, enquanto a segunda é caracterizada por uma intensa instrumentalização rítmica para animar a execução da dança. A história da dança no Congo está cheia de episódios singulares. Enquanto a rumba se manteve inalterada ao longo dos anos, os músicos congoleses começaram a inventar, sobretudo a partir de 1975, muitas outras danças.
Algumas são adaptações das danças tradicionais das diversas regiões do Congo, como a ekonda sacadé (da Província Equatorial), divulgada por Lita Bembo; a cavacha, das orquestras de Lipua-Lipua e Zaiko Langa-Langa; o mutwashi (Kasai), de Tshala Mwana, o mayenu (Baixo Congo), da OK Jazz, ou o mokonyonyo, de Papa Wemba.
Outras são inventadas segundo a inspiração do momento: o moto-moto (fogo!), de Pepe Kallé, convida o africano a «andar»; o kibinda-nkoy, que significa «caçador de leopardos), era, em 1996, uma dança com que os jovens de Kinshasa anunciavam o avanço das tropas de Kabila para deporem Mobutu, que se intitulava «o Grande Leopardo». O ndombolo, que conquistou as capitais africanas, é uma imitação do andar de algumas pessoas. Manu Dibango fez do makossa quase um símbolo dos Camarões.
Na África ocidental, outras danças animam a juventude: por exemplo, o high live, no Gana, o zighlity, na Costa do Marfim, o ventilateur, no Senegal. A dança africana caracteriza-se, geralmente, pela execução rítmica dos passos, movendo todo o corpo, sobretudo a cintura e os ombros. A propósito do baile africano, o falecido ex-presidente do Senegal Leopold Senghor inventou um silogismo tipicamente africano: «Sinto o outro, danço com o outro, logo existo.»


Tradicional e ocidental

Os africanos empregam uma grande variedade de instrumentos musicais tradicionais, que se tocam de diferentes maneiras, conseguindo numerosos sons de um mesmo instrumento: o tantã, o xalam (guitarra africana muito antiga, com cinco cordas), a kora, obalafon (xilofone), o kyondo na RD Congo (um tronco de árvore escavado por dentro, utilizado igualmente para transmitir mensagens).
Presentemente, os músicos africanos usam instrumentos ocidentais na criação de novos estilos de música popular; a combinação dos instrumentos africanos tradicionais com os ocidentais dá resultados interessantes. Lamine Konte, famoso griot senegalês radicado em França, canta acompanhando-se com uma kora. Morry Kante continua, na sua música moderna, a utilizar a kora juntamente com as guitarras ocidentais.

Negro ritmo

Todos os países africanos têm os seus músicos. Quase se pode desenhar um mapa da África com os grupos musicais. Em cada área cultural encontram-se músicos (grupos) da primeira geração da música africana moderna, como o T. P. OK Jazz, de Franco Lwambo, Tabu Ley, na RD Congo, Francis Bebey, Manu Dibango, nos Camarões, Myriam Makeba, na África do Sul, Salif Keita, no Mali, Ali Farka; e as gerações mais novas criando estilos próprios com referências ou não aos da primeira geração: Empire Bakuba, com Pepe Kallé, Zaiko Langa-Langa, Papa Wemba, Koffi Olomidé, na RD Congo; Youssou N’Dour, Touré Kounda, no Senegal; Sally Nyolo, Richard Bona e André-Marie Talla, nos Camarões.
Alguns africanos são hoje bastante solicitados para comporem músicas para filmes, como, por exemplo, o saxofonista camaronês Manu Dibango e os congoleses Papa Wemba e Tabu Ley Rochereau. Manu Dibango, nos seus álbuns «Metropolitain» e «Wakafrica», quis dar um exemplo de pan-africanismo, e apresenta os mais famosos títulos de toda a África, desde a década de 50; canta por uma causa africana ao lado de Youssou N’Dour, Papa Wemba, Doubé Eyango e Samé Lotin. A música africana é uma história de influências: marcou a música de outros continentes, mas também se aproveitou dela.
Os escravos negros africanos obrigados a ir para a América transportaram consigo as culturas e sobretudo a música africana impressa na alma da população negra; a raiz africana está bem patente nos espirituais, blues, jazz, reggae, assim como nos ritmos latinos de Cuba, Jamaica, Brasil e de toda a América Latina... O ritmo é negro! O ritmo está no sangue dos negros! Sem a música africana, que seria da música?
«Levámos o ritmo à música do mundo», afirmava Thomas Sankara, antigo presidente do Burkina Faso. Mas a música negro-africana moderna também recebeu e continua a receber muito de outras músicas. Os ritmos latinos regressaram a África trazendo a visão, o sentimento e a linguagem dos afro-americanos.
Manda Tchewa, estudioso e musicólogo congolês, estima que o património estrangeiro recebido pela música congolesa nos anos 50 se reparte da seguinte forma: 75 por cento do ritmo cubano chá-chá-chá, 10 por cento de música ocidental, 10 por cento de salsa e 5 por cento de outros ritmos; um contributo hispano-afro-cubano que se reflecte em títulos como «Quem semeia o seu milho», «Tremendo», «Lolita», «Cuidado»... ou em pseudónimos de músicos, como Franco Lwambo, Pepe Kallé...
jazz também regressou a África com novos sons: Manu Dibango reintegrou harmoniosamente o jazz na makossa camaronesa; o mesmo fez Fela, na Nigéria. Lucky Dube, da África do Sul, tornou-se famoso pelo seu estilo de reggae africano; igualmente Alpha Bolndy, da Costa do Marfim. Hoje em dia sabemos que o rock, o pop, o funky, etc. penetraram fortemente nos ritmos africanos, como se vê nas últimas criações de Youssou N’Dour, Papa Wemba, Angélique Kidjo, no Benim, e do grupo Black Force, do Senegal.
Todos esses músicos africanos cantam normalmente nas línguas africanas locais, alguns adoptam línguas estrangeiras, como o francês, inglês, espanhol ou português, mas o mais frequente é aparecerem, de vez em quando, algumas palavras nestas línguas europeias nas melodias modernas da África. Presentemente, com o aparecimento de vagas de CD, recolhem-se num mesmo álbum diversas canções de grupos diferentes: isso ajuda a «sentir» todas as Áfricas...



Como canta o coração

«Caminho como canta o coração; com ritmo de vida e de luz. Não obstante todos os obstáculos colocados por raças obscuras. A vida pertence-me. É linda. Será minha enquanto ela viver. Eternamente. É isto que canta o meu coração. É isto que diz a marcha rítmica a pés descalços no caminho pedregoso. No caminho da vida e da luz. Jovem, não tenhas medo. A natureza é tua amiga e o ritmo é a tua riqueza. Canta, dança, vive e ri e sê feliz. Trabalha na beleza que se desprende dos cânticos dos “griots” que semeiam doçuras de optimismo no esforço dos homens. Canta, vive e trabalha e assim serás um homem.
Eis a lição do meu povo. Negro do oeste a este e até ao Cabo da Boa Esperança. Povo de tristezas e alegrias todas embebidas de música e dança. Para o nascimento da criança. Para ajudá-la a crescer e a viver uma longa vida como homem. Para lhe abrir, por fim, as portas de uma outra vida, quando já tiver fechado os olhos para rever melhor. “Os mortos nunca partiram. Os mortos não estão mortos.” Exclama Birago Diop em nome de toda a África negra. Em nome de todas as comunidades negras que, desde séculos, em todo o continente se reúnem em volta desta crença. Crença suprema. Sem qualquer comparação no mundo. Crença que sempre a música, o ritmo e a dança, redescobrindo o homem, o renovam. Cada dia, em cada século. Para além de qualquer humilhação e injustiça. Bem para além de todos aqueles complexos de superioridade de que se acumulam os homens mortais. Os negros de África continuarão a viver graças à música, ao ritmo e à dança. Eternamente. Desde os séculos passados até aos milénios vindouros. Na condição de que eles não se deixem invadir de mais por este excesso de bens materiais que matam a imortalidade. Está aqui o segredo da sua vitalidade».

(Francis Bebey, músico dos Camarões e ex-responsável do departamento de música da UNESCO, citado por Elisabetta Tosi, in La Kora e il Sax, Bolonha 1990)

Os tambores também falam

Há certos tambores que servem em algumas partes da África para emitir rapidamente notícias de povoação para povoação. São os tambores falantes.

O facto de alguns tambores poderem emitir os sons da linguagem humana, e em particular o costume africano de enviar mensagens com tambores, é porque várias línguas africanas são «línguas-tom», quer dizer que as sílabas assumem um significado diferente conforme a altura em que são entoadas. As mensagens que os tambores reproduzem com o andamento melódico da linguagem falada não as devemos entender como uma espécie de alfabeto Morse, isto é, realizando sequências rítmicas diversas.
A linguagem tamborilada não faz outra coisa senão reproduzir os tons naturais presentes na linguagem falada, ou mais precisamente, a melodia da frase.
 A produção e descodificação de tais mensagens não é fácil, mas não se deve esquecer que só alguns eventos são comunicados deste modo, e nem todas as pessoas o conseguem fazer. Há pessoas habilitadas para a sua transmissão e para a sua «leitura». Também com o decorrer dos tempos o uso incessante de certas frases acaba por torná-las estereotipadas e transmitidas de geração em geração, tornando-se convencionais e familiares ao grupo de pessoas habituadas a senti-las desde sempre.
Utilizam muito este tambor como acompanhamento dos contos, histórias, mitos e lendas. Ele tem que ser tocado por um membro da comunidade, porque, se é tocado por outra pessoa, o instrumento irá falar uma linguagem desconhecida.
O facto de os tambores poderem imitar os sons da linguagem continua a ter muita importância numa sociedade onde a palavra escrita é só acessível a um grupo ainda muito pequeno, e destes a maior parte deles vive nos centros já relativamente urbanizados. No mato, a maior parte da pessoas ainda não sabe ler nem escrever.






VÍCIO MORTAL / PRA TE MERECER

JOÃO PEDRO E RAFAEL - MEU DIÁRIO